Fundado em 1963 o Clube Náutico de Araraquara originou-se a partir do desejo de quatro colegas amantes do esqui aquático. Em uma área de 664 hectares, a primeira providência foi construir a represa, inaugurada em 1965. Os seus fundadores buscaram assistência profissional para o desenvolvimento do Plano Diretor, primeiro com o arquiteto Sergio Bernardes e depois com um grupo formado por um engenheiro e estudantes de arquitetura, dentre os quais se destacaram o Engenheiro Roberto Massafera e o Arquiteto Francisco Santoro, que apresentaram uma proposta mais alinhada com as intenções do novo Clube. Santoro assina também as edificações que foram construídas ao longo dos anos.
Definiu-se, também, que a paisagem fosse tratada com o mesmo grau de compromisso. Assim, ao final de 1970, a Diretoria do Clube, que buscava por um paisagista, contrata para o desafio o ainda estudante de agronomia e ex-estagiário de Roberto Burle Marx, Luiz Antonio Ferraz Matthes. Matthes, passa a ser a figura principal na formação da paisagem do Clube Náutico, transformando áreas de pastagens em um dos maiores exemplos de composição paisagística em território nacional, unindo remanescentes naturais de cerradão com jardins de grande diversidade e beleza cênica.
Percebe-se a harmonia entre o planejamento da paisagem e a arquitetura, em conjuntos de edificações modernas e composições paisagísticas elaboradas, com grande semelhança estética aos maiores projetos do próprio Burle Marx, fruto do respeito profissional e da influência positiva da amizade que mantiveram por mais de 35 anos. Quando Roberto visitou o clube em 1994, declarou satisfeito, que a bela paisagem do Clube era a única que ele assinaria como dele, em um verdadeiro gesto de admiração ao trabalho do amigo.
Com mais de 400 espécies de árvores e arbustos, mais de 100 espécies de palmeiras e mais de 40 de herbáceas, além dos jardins e das áreas de preservação vegetal, o Náutico conta com uma verdadeira coleção de plantas que, esteticamente posicionadas, compõem alguns jardins do Clube. O local é um “oásis” em meio à monotonia da cultura de cana de açúcar que o circunda.
Ao todo, as áreas de uso recreativo e esportivo do Clube contam com mais de 30 jardins projetados a partir de formas orgânicas e com alto rigor estético e científico. A grande escala de projeto, ao invés de se mostrar um problema, permitiu a ampliação da paisagem em proporções, formas e utilização de espécies que, por fim, compõem a grande paisagem cultural do Náutico.
Para além das questões estéticas, Matthes e sua pequena equipe elaboraram, frente ao desafio de projeto e conservação, diversas estratégias de gestão e de manejo da paisagem ao longo de 5 décadas de trabalho. Ações que tratam da capacitação da equipe de jardineiros, de gestores, da produção de mudas, bem como, da definição de diretrizes e regramentos para a manutenção do patrimônio. Desse modo, o Clube Náutico pode ser considerado um exemplo de trabalho com a paisagem, desde a escala mais ínfima até a mais abrangente.